Doses maiores

4 de setembro de 2012

Música feita para queimar as entranhas

Em 18/09, Luiz Felipe Reis publicou reportagem no Globo sobre o lançamento do livro “Strange fruit”. A obra é sobre uma canção interpretada por Billie Holiday que causou polêmica no final dos anos 1930, nos Estados Unidos. Seu tema era o linchamento de negros, que incluía o enforcamento. Muitas vezes, sob aplausos de multidões.

Segundo o texto, quando terminava de cantar, Billie deixava o palco, “sem despedida, bis, nada. Apenas escuro e silêncio”. Até que as palmas tomavam o ambiente. Cena que sempre se repetia “nas noites nova-iorquinas de 1939”.

“As pessoas tinham de se lembrar de ‘Strange fruit’, ficar com as entranhas queimadas pela música”, teria afirmado Barney Josephson, ex-dono do clube em que a música costumava ser apresentada.

Abel Meeropol compôs a canção ao ver uma foto que mostrava os corpos de dois negros pendurados em árvores. Eram as estranhas frutas a que se refere a canção. Na época falar sobre os linchamentos era tabu. “Por isso, cantar aquela música foi um ato de coragem”, diz o texto.

Interpretar a canção rendeu agressões de todo o tipo contra Billie. “A Columbia Records se negou a gravá-la, e sua mãe protestou quando soube da música”, diz o artigo. “Fiz uma porção de inimigos, sim”, teria dito a cantora à revista “Downbeat”, em 1947.

Meeropol era branco, mas judeu. Talvez, esta sua condição tenha ajudado na composição da obra. Seu povo, tal como os negros, foi sacrificado pelo conservadorismo mais covarde e estúpido. Ambos provaram do fruto amargo do racismo e da crueldade humana.

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