Doses maiores

4 de julho de 2012

Democracia e redução da jornada de trabalho

Os jornais chamam a atenção para o aumento no número de vereadores a disputarem as próximas eleições. São 5.070 novas vagas criadas devido à aprovação de uma emenda constitucional em 2008.

O protesto é geral. Para que desperdiçar verbas públicas com mais mordomias? Por que criar novas oportunidades para corrupção e mau uso do dinheiro do povo? A indignação tem todo sentido. A política institucional cheira pior a cada dia.

Mais importante é perguntar por que o sistema funciona assim. Os eleitores não fiscalizam seus eleitos, dizem alguns. Outros falam do “déficit democrático”. Os representantes já não conseguem representar os interesses de seus representados.

A primeira resposta é simplória, a segunda é pomposa. O problema de fundo é a divisão social do trabalho. Desde a democracia grega e da república romana na Antiguidade é assim. A grande maioria trabalha para uma minoria. E esta tem tempo livre para fazer política.

Quem tem tempo de fiscalizar seus parlamentares e governantes trabalhando 8, 10, 12 horas por dia? Qual desempregado vai comparecer a sessões legislativas ao invés de tratar da sobrevivência?

Enquanto isso, do outro lado, uns poucos "bem nascidos" dedicam-se à política em tempo integral. Alguns deles nem precisam se vender. Basta que trabalhem para que tudo continue como está. Já fazem sua parte na manutenção da injustiça social.

Para começar a mudar isso, é preciso lutar pela redução da jornada de trabalho. A medida possibilitaria criar mais empregos. Mas também, mais lazer e tempo para estudar, se informar e, principalmente, para fazer política.

2 comentários:

  1. E Lafargue estava certo. Lutemos pelo direito à preguiça! Aproveitemos os momentos da "educação pela greve".
    E assim fala Lafargue: Uma estranha loucura arrasta consigo misérias individuais e sociais que há dois séculos torturam a triste humanidade. Esta loucura é o amor ao trabalho,[...] levado até o esgotamento das forças vitais do indivíduo e da sua progenitora. Em vez de reagir contra essa aberração mental, os padres, os economistas, os moralistas sacrossantificam o trabalho.[...] Na sociedade capitalista, o trabalho é a causa de toda a degenerescência intelectual, de toda a deformação orgânica[...] Jeová, o deus barbudo e rebarbativo, deu aos seus adoradores o exemplo supremo da preguiça ideal; depois de seis dias de trabalho, repousou para a eternidade[...]Por que razão devorar em seis meses o trabalho de todo o ano? Por que não distribuí-lo uniformemente por doze meses e forçar todos os operários a contentar-se com seis ou cinco horas por dia, durante o ano, em vez de apanhar indigestões de doze horas durante seis meses...então não esgotados de corpo e de espírito, começarão a praticar as virtudes da preguiça. E completando Lafargue: poderemos ter direito de "mais lazer e tempo para estudar, se informar e, principalmente, para fazer política", fiscalizar parlamentares e governantes, fazer greves...pensar.
    Parabéns Sérgio...Nesses dias de greve do funcionalismo federal (estou na luta, porque acredito que as greves educam e abomino a mídia poderosa que diz que não trabalhamos) reivindico o "direito à preguiça", uma jornada reduzida de trabalho.
    M. dos Anjos

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  2. É isso aí. Tem umas pílulas sobre isso. Uma delas é "Greve no domingo pelo direito à preguiça".
    Valeu pelo comentário.
    Abraço

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