Doses maiores

2 de abril de 2012

Na África, a carne mais barata

“Quem precisa da África?“ Esta pergunta inicia artigo de Marcilio R. Machado, publicado pelo Valor, em 30/03. O autor é membro do conselho de administração da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). A resposta? O capitalismo. Diante da crise que atinge os “países ricos”, ele recomenda investimentos em países africanos:
Apesar do ambiente de turbulências econômicas globais, o crescimento da África subsaariana permaneceu robusto, variando de 4,8% em 2010 para 4,9% em 2011. Além disso, o fluxo de capital cresceu, no mesmo período, de US$ 35,8 bilhões para um valor aproximado de US$ 41 bilhões.
O autor diz que não há o que se temer quanto às consequências sociais de uma elevação dos investimentos na região. Quem garante é Adam Smith, “pai da economia moderna”. Segundo Machado:
Adam Smith, que na sua obra menos conhecida, "Teoria dos Sentimentos Morais", defende que a natureza humana não é composta apenas de interesses pessoais. A natureza humana inclui simpatia, empatia, amizade, amor, e o desejo de se obter o reconhecimento social. A sua abordagem ressalta que capitalismo é um sistema econômico focado mais na importância de servir do que em aspectos estritamente comerciais com o objetivo de acumular riqueza.
Só não custa lembrar que Adam Smith é o pensador favorito dos defensores da mais completa liberdade de mercado. A única verdadeiramente posta em prática pelo capitalismo. Por isso mesmo, responsável pelas catástrofes sociais que, hoje, atingem os próprios países centrais do sistema.

A sugestão do artigo deveria fazer tremer de medo às populações do grande continente negro. Trata-se de recomendar mais capitalismo a uma região do planeta que já vem sendo devastada por ele há séculos. Prova mais cabal de que o capitalismo só sabe acumular riqueza sem distribuí-la.

O fato é que mais uma vez se lembram da África como fonte de exploração destruidora. Talvez, o artigo de Machado pudesse ser resumido em poucas palavras. Aquelas que aparecem em uma música de Marcelo Yuka, Ulisses Cappelletti e Seu Jorge. Chama-se “A carne”, foi gravada pelo “Farofa Carioca” e diz:
A carne mais barata do mercado é a carne negra
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