Doses maiores

24 de outubro de 2011

O que cheira mal nas imagens de Kadafi

Os carrascos de Kadafi igualaram-se a sua vítima em crueldade. Mas também chamou a atenção a ampla divulgação da violência. Quase toda a grande imprensa mundial exibiu as terríveis imagens.

Os editores alegam que em tempos de internete elas viriam a público de qualquer forma. Um fenômeno que acontece porque as pessoas comuns teriam se tornado repórteres. Milhares delas no mundo todo registram imagens que vão parar na rede mundial. Mas divulgar fotos e filmes desse modo é jornalismo?

Se olharmos para a atual comunicação de massa, a resposta é sim. E isso é muito perigoso. Basta lembrar um artigo que Roland Barthes escreveu em 1962. Em “A mensagem fotográfica”, ele diz que a imprensa:
...utiliza a credibilidade particular da fotografia (...) para fazer passar como simplesmente denotada uma mensagem que na verdade é fortemente conotada; em nenhum outro tratamento a conotação toma tão completamente a máscara "objetiva" da denotação”.
Conotação é o sentido figurado de um texto. Denotação é seu sentido literal. O que Barthes diz é que a fotografia dá a impressão de objetividade. É uma imagem. É o fato. É denotativa. Mas os vários modos de tratar e manipular a imagem dão a ela sentidos conotativos. Resta muito pouco de neutro nela. Principalmente, da forma como a grande mídia a utiliza.

As imagens de Kadafi servem a quê? Guerra por audiência? Afirmação da vitória imperialista? Recado a outros ditadores? Tudo isso é possível. Mas, com certeza, elas denunciam uma imprensa cada vez mais rasa e sensacionalista. Perfeitamente adequada à alienação geral que aumenta a tolerância social tanto em relação aos ditadores quanto a seus carrascos.

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