Doses maiores

26 de outubro de 2011

Karaokê no século 17

Prezados amigos do século 19, sabeis como admiro a vida dos habitantes do século 21. Mas, por vezes, sinto que eles mesmos parecem se deslumbrar demasiadamente com sua própria época.

É o caso do entusiasmo com que alguns falam sobre as possibilidades criativas de seus avançados meios de comunicação. Uma delas é o “hipertexto”. Trata-se de textos que podem ser lidos, e modificados por várias pessoas através de ágeis redes de comunicação. Algo que eles chamam de “meio interativo”. É um assombro, sem dúvida alguma.

No entanto, fez me lembrar da utilização da escrita manual antes da popularização da imprensa no século 16. Diferente do texto impresso, o manuscrito acabava por passar por vários copistas. Nesse percurso ia sendo modificado. Digam-me se isso também não pode ser chamado de “meio interativo”? E com a vantagem de não haver tantas preocupações com direitos autorais.

Outra invenção que encanta os viventes destes tempos é o que eles chamam de karaokê. Uma forma de diversão em que os participantes cantam acompanhando música e letra transmitidas por um aparelho. Tal prática não é tão nova assim. Na Inglaterra do início do século 17 era costume homens e mulheres se reunirem para cantar em tabernas. E nestes lugares, as letras das canções eram pintadas nas paredes para que todos pudessem cantar juntos.

Não contesto as evidentes diferenças tecnológicas. Mas, quem sabe, falte um pouco de informação histórica a muitos daqueles que pensam e teorizam sobre seu próprio tempo. Seria prudente que se deixassem encantar menos por experiências que, talvez, não sejam tão recentes assim. Falta-lhes mais informação e humildade.
(Com base no livro “Uma história social da mídia: de Gutenberg à Internet”, de Asa Briggs e Peter Burke).

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