Doses maiores

11 de outubro de 2011

A ditadura eleitoral estadunidense

Os republicanos acharam que levariam a democracia para o mundo árabe invadindo o Iraque. A ironia é que foi o mundo árabe que nos deu uma lição de democracia e, posso garantir, estamos aprendendo rápido. (Valor - 07/10/2011)
A frase acima é de Brandon Klein, um dentre as centenas de jovens acampados em Wall Street. Pode parecer um exagero, mas não é. Ellen Wood, professora de Ciência Política na Universidade de York, Toronto, concordaria.

Em seu livro "Democracia contra o capitalismo", Wood afirma que o capitalismo é incompatível com a democracia, entendida como “o poder popular ou o governo do povo”. E essa incompatibilidade teria no sistema político estadunidense uma de suas origens. Segundo a professora marxista:
Nos Estados Unidos se inventou uma nova concepção de democracia formada por muitos indivíduos particulares e isolados que renunciam a seu poder para delegá-lo a outros para desfrutar de forma passiva de certos direitos civis e liberdades básicas. Em outras palavras, eles inventaram um conceito de cidadania passiva e despolitizada.
Por isso os movimentos sociais são tão fracos em terras ianques. É o que diz Richard Sennett, professor da Universidade de Nova York:
...os americanos não são bons em organizar movimentos sociais. Quero dizer, a esquerda não é. A direita é ótima: o Tea Party é muito bem organizado e sustentado. A esquerda tende a ligar os movimentos sociais a suas vitórias eleitorais, mas, quando não ela consegue vencer, eles se desmancham. (O Estado de São Paulo, 09/10/2011)
Trata-se de uma ditadura perfeita. Um sistema de partido único com duas alas: a republicana e a democrata. Ambas com divergências apenas quanto a que setores do grande capital servir prioritariamente.

Mas uma crise como a atual pode abrir brechas nesse poderoso bloco político. A recessão mina um dos pilares do sistema: o consumismo. E é novamente Sennet que avisa: “Quando se pode consumir os problemas ficam esquecidos, guardados”.

Neste caso, a experiência das revoltas árabes realmente é valiosa. Inspira os acampamentos montados em praças de várias cidades americanas. É o retorno do internacionalismo de combate na luta por uma democracia verdadeira.

Leia também: Lênin na ocupação de Wall-Street

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