Doses maiores

31 de maio de 2011

Imperialismo jr. e o acordo de Itaipu

Em meados de maio, o Senado aprovou reajuste do valor pago pelo Brasil ao Paraguai para comprar o excedente da energia gerada pela usina de Itaipu. A medida triplica os valores pagos ao país vizinho. Estranhamente, ninguém reclamou muito. Nada de jornais e TVs fazendo escândalos.

Artigo do jornalista Sergio Leo ajuda a entender melhor o que está em jogo. “Por que ajudar os vizinhos” foi publicado no Valor de 30/05/2011. Alguns trechos merecem destaque. Referindo-se ao comércio externo brasileiro, a matéria afirma que:
...a América do Sul tem gerado saldos comerciais ao Brasil superiores a US$ 10 bilhões desde 2005. Entre 80% a 84% do que o continente compra do Brasil são mercadorias manufaturadas, de maior valor agregado, produtos para os quais é um mercado maior que o dos países desenvolvidos, segundo as estatísticas oficiais.
Ou seja, uma relação francamente favorável ao capital com sede no Brasil. Muito diferente de nossas transações com os parceiros comerciais mais fortes, como Estados Unidos, Europa e China.

Depois de lembrar que ”a expansão das empresas brasileiras encontra na América do Sul seu trampolim ideal”, o jornalista diz que o Paraguai:
...viu os investimentos do Brasil em negócios locais aumentarem de pouco mais de US$ 80 milhões em 2005 para mais de US$ 140 milhões em 2006, segundo o Banco Central, e ultrapassarem US$ 400 milhões em 2009, segundo estimativas locais.
E completa com informações reveladoras:
A cifra tende a subir com a construção de uma linha de transmissão que regularizará o fornecimento de energia à capital Assunção. O aumento dos investimentos, que se dirigem em grande quantidade para a agropecuária, metalurgia e confecções, mas também crescem em ramos como hotelaria, calçados, cimento e frigoríficos, faz com que o desempenho econômico do país cada vez mais tenha reflexos sobre o setor privado brasileiro. Previsões como a de que o Paraguai será o quarto exportador mundial de carne até 2014, são notícia de ganhos para empresários do Brasil.
Ainda mais esclarecedora é a seguinte afirmação:
É comum, para desqualificar programas de ajuda brasileiros aos vizinhos, lembrar que há regiões pobres no Brasil necessitando também de ajuda. Argumento capenga, que só prospera entre os que ignoram que os laços econômicos e de ajuda internacional são instrumento poderoso de influência e pressão sobre governos estrangeiros. O apoio a economias mais frágeis também traz benefícios ao doador, como bem percebe a Alemanha, maior contribuinte dos fundos de auxílio e coesão da União Europeia e principal beneficiário da dinâmica econômica criada no bloco.
Neste caso, seríamos uma espécie de Alemanha do Cone Sul. É o imperialismo jr. em ação novamente.

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Os peidos do capitalismo

Emissões de dióxido de carbono batem recorde em 2010, anunciam os jornais. Trata-se dos gases responsáveis pelo efeito estufa. O principal deles é o dióxido de carbono. Sua emissão na atmosfera cresceu 5% em relação a 2009. O recorde anterior foi registrado em 2008.

Os números colocam em dúvida o cumprimento da meta de limitar o aquecimento global em menos de 2 graus. Um objetivo que foi estabelecido durante a conferência da ONU sobre mudanças climáticas realizada no ano passado, em Cancún.

Em 2009, as emissões haviam caído graças à crise econômica mundial, que reduziu a atividade econômica internacional.

Ou seja, basta que a economia funcione a todo vapor para que o ar volte a ser empesteado. Pode-se dizer que se trata de um problema de flatulência. A minoria capitalista está peidando para o resto do planeta.

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30 de maio de 2011

Democratizar o FMI é piada sem graça

Dominique Strauss-Kahn era o Diretor-Gerente do FMI. Pediu demissão após ser preso por ter cometido agressão sexual contra uma camareira, em um hotel em Nova Iorque.

De qualquer maneira, a vacância do cargo alimentou uma disputa boba. Os países chamados “emergentes” querem indicar o novo presidente. Brasil, Índia e China reclamam uma espécie de “democratização” da instituição. Sobre isso, vejam o que diz o economista americano Robert Shapiro, ex-subsecretário de Comércio dos EUA na gestão de Bill Clinton:
Não acho que um candidato de país emergente faria diferente. Haveria mais atenção para esses países, mas, ao mesmo tempo, qualquer um que seja escolhido vai compartilhar da visão geral do establishment financeiro internacional (Valor - EU& Fim de semana - 27/05/2011).
E completa: “Não há dúvida de que Strauss-Kahn fez um excelente trabalho no FMI”. Shapiro sabe do que está falando. Talvez, estupros façam parte das habilidades necessárias para alguém que pretenda presidir o FMI. Querer democratizar um antro destes não pode ser mais que uma piada bem sem graça.

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Divisão de lucros é ilusão que divide trabalhadores

Desde meados de maio, pipocam greves entre os metalúrgicos no País todo. Uma greve de advertência de 24 horas paralisou a General Motors de São José dos Campos. Na unidade de São Caetano do Sul foram quatro horas de paralisação. No Paraná, a fábrica de caminhões e ônibus da Volvo, em Curitiba, a greve foi de três dias. Já na Renault, em São José dos Pinhais, região metropolitana de Curitiba, bastou uma ameaça de greve para que a montadora aceitasse a proposta dos trabalhadores.

A onda de lutas está conquistando vitórias. Mas, há um problema. Elas têm como principal bandeira de luta o aumento do valor da Participação nos Lucros ou Resultados (PLR). Um tipo de remuneração que começou a ser adotado juntamente com o avanço do neoliberalismo no Brasil. E não é para menos.

O pagamento da PLR pode fazer com que as categorias deixem em segundo plano a luta por reajuste salarial. E este incorpora-se aos salários, servindo de base para futuros reajustes. Outro problema grave é que a negociação tende a ser descentralizada. Ficam de fora, por exemplo, os terceirizados.

Por fim, embute a lógica de que lucros são bons para patrões e empregados. O que é falso. A razão de ser do capitalismo é a exploração da força de trabalho dos trabalhadores. Ceder parte dos lucros jamais compensará essa desigualdade. Do contrário, não estaríamos sob o capitalismo.

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27 de maio de 2011

A volta das câmaras pelegas

As Câmaras Setoriais estão de volta. Segundo a grande imprensa, estão sendo ressuscitadas por empresários e sindicalistas. Em especial, Fiesp, CUT, Força Sindical e os sindicatos dos metalúrgicos de São Paulo e do ABC.

A proposta teria sido motivada pela situação complicada por que passa a indústria devido à desvalorização do dólar. Um de seus principais objetivos é pressionar o Estado a estimular a indústria nacional. Outra meta é aumentar a participação dos trabalhadores nos lucros das empresas.

As Câmaras Setoriais surgiram nos anos 1990. O país passava por uma crise econômica. Foram criadas 26 delas, de vários ramos econômicos. Mas, apenas três conseguiram estabelecer acordos. Armando Boitto Jr, escreveu um artigo sobre o tema para a revista Crítica Marxista nº 3, em 1996. Segundo ele:
No caso da câmara do setor automotivo, o governo Itamar, por intermédio do ministro da Fazendo Ciro Gomes, proibiu o reajuste mensal de salários, que era um dos dois pontos mais importantes do acordo para os operários. As montadoras, por sua vez, abandonaram a câmara e começaram a demitir – a Ford e a Mercedes demitiram, em um só mês, quase três mil operários. O ponto do acordo que previa crescimento do emprego também se tornou letra morta. O governo e as montadoras ficaram na câmara apenas enquanto era do seu interesse.
Na época, já havia sido um erro que a CUT entrasse nessa roubada. Agora, não há nem mesmo a desculpa de que uma crise econômica atinge o setor industrial. É verdade que existe uma ameaça de que isso aconteça. Mas, a solução não é antecipar-se a ela através de um mecanismo como as Câmaras Setoriais. É preciso enfrentar os patrões e o neoliberalismo através de campanhas e lutas.

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26 de maio de 2011

Obama não deixa de ter razão

Em 25/05, Obama fez um discurso para o Parlamento Britânico. A respeito dos chamados países emergentes, disse:
"Países como a China, o Brasil e a Índia estão crescendo, criando mercados e oportunidades para nossos povos. Tais nações crescem porque estão baseadas nos valores que os Estados Unidos e o Reino Unido defendem”.
Alguns exemplos podem confirmar as palavras do presidente americano.

Em 06/05, a Folha Online, publicou nota com o título “Cenas do capitalismo à chinesa”. Uma foto mostra multidão na entrada da loja oficial da Apple em Pequim, no primeiro dia de venda do iPad 2. Trata-se de equipamento produzido pela Foxconn. A empresa ficou conhecida pelas péssimas condições de trabalho e baixos salários. Situação que teria motivado o suicídio de 14 de seus funcionários, em 2010.

A economia brasileira é outro exemplo do respeito aos valores citados por Obama. Basta lembrarmos as tragédias sociais que vêm sendo causadas por empresas como a CSA, no Rio de Janeiro. Por Belo Monte e Jirau no norte do País. Ou pelos choques de ordem nas grandes cidades, que atinge violentamente as populações pobres.

Tal como na China, são inegáveis as demonstrações do progresso capitalista. Um tipo de desenvolvimento que começou nas escuras, sujas e mortais fábricas londrinas. Financiadas pela escravidão nas Américas e pela pirataria apoiada pela coroa britânica.

Quanto aos Estados Unidos, citemos o historiador estadunidense Howard Zinn. Em seu livro “Uma história do povo dos Estados Unidos”, ele denuncia inúmeros episódios de perseguições, prisões, torturas, assassinatos, massacres. Suas vítimas: indígenas, negros, sindicalistas, migrantes, mulheres, homossexuais. Sem falar nos povos espalhados pelo planeta.

Obama não deixa de ter razão.

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Imperialismo brasileiro no Peru

Palocci e os salsicheiros

“Leis são como salsichas. É melhor não ver como são feitas”. Esta frase é do primeiro-ministro alemão, Otto Von Bismarck (1815-1898). Costuma ser dita em referência ao mundo político brasileiro. Mas, ficou famosa e continua atual por resumir como funciona a sociedade capitalista. Tanto para as leis, como para as salsichas.

No caso Palocci, tudo indica que o ministro da Casa Civil é responsável por um esquema de “caixa 2” para o PT. Todos caem em cima, com razão. Não deixa de ser corrupção. Mesmo que seja algo tão antigo quanto a situação que motivou a frase do poderoso chanceler alemão.

O problema é que, novamente, apontam o dedo para os políticos e esquecem os salsicheiros. Deixam na sombra grandes corporações formadas por empreiteiros, banqueiros e empresários em geral. A rigor, todos os grandes doadores das maiores campanhas eleitorais são suspeitos. Entre eles, a maioria dos anunciantes da grande mídia.

Desse modo, não interessa a tucanos e grande imprensa insistir na investigação rigorosa do caso todo. Dificilmente, vão revelar quem faz as salsichas de que se empanturram.

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25 de maio de 2011

Um governo derrotado antes de ser eleito

A Câmara dos Deputados aprovou ontem, 24/05, a reforma o Código Florestal. Uma vitória da bancada ruralista contra a preservação ambiental. A decisão contou com o apoio de grande parte da bancada governista. Entre eles, 45 dos 80 petistas. Logo depois, foi aprovada a concessão de anistia aos produtores que desmataram Áreas de Preservação Permanente às margens de rios e encostas até 2008.

No mesmo dia foram assassinados José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo. O casal lutava contra a devastação florestal e a exploração ilegal de madeira em Maçaranduba, no Pará. As mortes foram anunciadas durante a votação do Código Florestal, na Câmara. Segundo o jornal Valor, foi recebida por vaias que vinham das galerias e também de alguns deputados ruralistas.

Ainda no dia 24/05, o governo decidiu suspender a produção do kit contra a homofobia. O material seria distribuído pelo MEC nas escolas públicas. Segundo a imprensa, a decisão foi tomada depois que deputados religiosos ameaçaram apoiar propostas que prejudicariam o governo. Entre elas, a convocação do ministro Palocci, sob suspeita de enriquecimento ilícito.

Nada disso deveria surpreender. Durante a campanha eleitoral, Dilma foi alvo de ataques da extrema direita. Entre outras coisas, era acusada de ser a favor do casamento gay e do aborto. A campanha petista respondeu com medrosos desmentidos. Recuos vergonhosos em relação ao combate à homofobia e aos direitos das mulheres.

Tudo indica que novas vitórias virão. E serão dos conservadores dentro e fora do governo. Resta aos combatentes populares buscar a independência. Menos luto e mais luta.

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24 de maio de 2011

Os indígenas que moram no tempo

Em 21/05, a BBC publicou reportagem sobre indígenas da Amazônia que não teriam noção de tempo. A descoberta foi feita por pesquisadores brasileiros e britânicos. Trata-se da tribo dos Amondawa. Seus membros não usariam estruturas linguísticas que relacionam tempo e espaço.

Um dos responsáveis pelo estudo é Chris Sinha, professor de psicologia da língua na Universidade de Portsmouth. Ele afirma que não se trata de dizer que os indígenas “são ‘pessoas sem tempo’ ou ‘fora do tempo’”. Segundo o pesquisador:
O povo Amondawa, como qualquer outro, pode falar sobre eventos e sequências de eventos. O que não encontramos foi a noção de tempo como sendo independente dos eventos que estão ocorrendo. Eles não percebem o tempo como algo em que os eventos ocorrem.
Por exemplo, para eles não existiria algo que fica “no ano que vem”. Ainda segundo a reportagem:
...as pessoas da tribo não se referem a suas idades – em vez disso, assumem diferentes nomes em diferentes estágios da vida, à medida que assumem novos status dentro de sua comunidade.
Esse tipo de descoberta chega a assustar. Cada vez mais, vivemos o tempo como um trem-bala desgovernado. Mas, também ajuda a mostrar toda a riqueza da diversidade humana. Lembra uma frase do antropólogo Clifford Geertz em seu livro “A interpretação das culturas”:
...um dos fatos mais significativos ao nosso respeito pode ser, finalmente, que todos nós começamos com o equipamento natural para viver milhares de espécies de vida, mas terminamos por viver apenas uma espécie.
Experimente dizer isso aos ruralistas e ao grande capital, que cobiçam as matas em que vivem os indígenas. Para eles, humanidade tem apenas uma vocação: o acúmulo de propriedades e a busca por lucros. Povos “atrasados” devem sair da frente ou serão atropelados por seus empreendimentos bilionários.

Talvez, os Amondawa façam do tempo uma espécie de morada permanente, tranqüila e ensolarada. Já nossos poderosos dominadores querem nos arrastar velozmente para a escuridão de seus porões sujos.

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23 de maio de 2011

Por um internacionalismo socialista

A revolta se espalha pela Espanha. As ruas estão tomadas por multidões em cerca de 60 cidades. É a resposta popular à terrível crise econômica que toma conta do país. Muitos setores envolvidos nos protestos dizem que se inspiraram nas manifestações que acontecem nos países árabes e africanos. Na Tunísia, Egito, Síria, Bahrein, Iêmen.

Mas, diferente do que acontece na Espanha, a maioria dos revoltosos árabes e africanos quer ter o direito de eleger seus governantes. Já no país europeu, os manifestantes mostram desprezo pela política institucional. Uma das palavras de ordem do movimento é “Nem políticos, nem banqueiros”.

Houve eleições municipais neste final de semana. O Partido Socialista, que está no poder, foi o grande derrotado. Porém, os manifestantes espanhóis não estão satisfeitos. Já não agüentam uma democracia em que os grandes partidos se revezam no papel de manter e aprofundar a exploração econômica.

Talvez, tanto as revoltas do mediterrâneo como do oriente árabe sinalizem uma onda internacional de protestos. Só que envolvem problemas e situações bastante diferentes. De um lado, as forças populares estão fartas de falsas democracias. Do outro, não agüentam mais ditaduras bastante reais. Um ponto em comum é a crise econômica.

Nesse cenário desigual, o desafio é descobrir o que pode unificar as lutas. O fato é que são várias as formas que a dominação capitalista assume. Pode vestir ternos bem cortados ou envergar pesadas fardas militares.

No início do século 20, a situação dos trabalhadores no mundo era ainda mais desigual. No entanto, um internacionalismo combativo floresceu. Seu objetivo maior era a derrota do capitalismo e a construção do socialismo.

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Imperialismo brasileiro no Peru

20 de maio de 2011

Obama cala sobre a ditadura saudita

“Mulheres lançam protesto para dirigir na Arábia Saudita”, diz a manchete da Folha. É isso mesmo. Conduzir automóveis é proibido para mulheres, no país árabe.

Ontem, Barack Obama fez um discurso sobre o “mundo árabe”. Puxou a orelha das ditaduras da região. Apoiou os rebeldes no Oriente Médio e no norte da África. Condenou a repressão a protestos pelos regimes da Líbia e da Síria. Disse que israelenses devem chegar a um acordo, criando dois Estados. Grande parte dessa confusão toda é culpa do imperialismo americano.

Obama tenta agir como se tivesse chegado agora. Não tivesse nada ver com isso. Mas, foi suave com a ditadura que governa o Barhrein. Só pediu “mais diálogo” entre governo e oposição. Neste pequeno país, o regime tem respondido aos protestos populares com sentenças de morte e detenções em massa. É nele que fica estacionada a Quinta Frota da Marinha norte-americana. Daí, a suavidade do discurso do imperador de plantão.

Já a Arábia Saudita, não foi citada por Obama. Afinal, o país é um dos maiores aliados dos Estados Unidos e da Europa na região. Abriga poderosas bases militares americanas. Possui as maiores reservas mundiais de petróleo.

O protesto feminino pode não assustar. Mas, é um sinal de perigo. É na Arábia Saudita que fica Meca. A cidade recebe 13 milhões de fiéis por ano. E se a ditadura saudita for ameaçada por manifestações populares? Se o apoio aos Estados Unidos correr risco? Se for necessária uma intervenção militar para impedir isso? Toda essa confusão no país em que fica capital mundial dos muçulmanos? Melhor nem falar do assunto, mesmo!

Leia também: O mundo árabe é ocidental

19 de maio de 2011

Para a mídia, só vale política suja e autorizada

A mídia está em plena campanha política. O alvo é Palocci. A situação do ministro petista pode até não ser ilegal, mas é imoral. O PT presta mais um serviço à direita. E ainda procura justificar apontando o dedo para a gangue tucana. Tenta trocar um erro pelo outro.

Recentemente, a Câmara Municipal carioca desistiu de comprar automóveis para seus vereadores. Cada um deles custaria 70 mil. Alega-se que a suspensão da compra foi resultado de pressão popular. Menos. Foi muito mais uma campanha da própria imprensa. Os casos de Palocci e dos automóveis oficiais são tudo o que a grande mídia quer.

O partido da grande imprensa gosta de mostrar a política como atividade nojenta. Isso é até verdade em relação à política institucional. O problema é que o nojo popular volta-se contra todo tipo de atividade política. Aí, a imprensa empresarial aproveita para posar de representante da vontade popular. Só não admite que seus interesses estão representados por uma enorme bancada de parlamentares e governantes.

Enquanto isso, os jornais dão pouca atenção a recentes acontecimentos em Caetité, na Bahia. Um protesto de moradores impediu a entrada de uma carga de urânio na cidade. Eram 90 toneladas do minério. Caetité vem sofrendo com radiação causada por mineração de urânio em seu território. A população resolveu reagir.

A carga foi desviada para Guanambi, que fica ao lado. Também foi barrada pela população local.

Para a grande mídia, não interessa divulgar esse tipo de iniciativa. Não foi emporcalhada pelos partidos domesticados e pelas instituições oficiais. É política não autorizada. Feita de baixo para cima. Não serve.

Leia também: Patrões seqüestram opinião de jornalistas

18 de maio de 2011

Patrões seqüestram opinião de jornalistas

A UOL adotou recomendações para o uso de redes sociais por seus jornalistas. É o que diz reportagem de Izabela Vasconcelos para o Comunique-se. Segundo a matéria:
A orientação é que os jornalistas evitem manifestar posições partidárias e políticas, antecipar reportagens que serão publicadas ou divulgar bastidores da redação, a menos que seja decisão do UOL, e emitir juízos que comprometam a independência ou prejudiquem a imagem do portal.
É verdade que nenhuma das práticas acima é tema necessário das conversas de participantes de redes sociais. Além disso, fazer parte dessas redes poderia ser considerado algo distante do cotidiano de trabalho. O problema é que a vida particular de vários profissionais há muito tempo foi colonizada pelos deveres exigidos pelo empregador.

O fato é que muitos trabalhadores já não conseguem livrar-se de seus deveres profissionais fora do horário de trabalho. É a jornada de trabalho engolindo as horas de descanso, lazer, estudo, etc. É a “colonização” da vida pessoal pela vida profissional.

A situação dos jornalistas parece ainda pior. Evitar assuntos que envolvam política e cotidiano de trabalho pode inviabilizar a própria vida social. É como entrar numa conversa impedido de falar sobre aquilo com que mais se tem contato. É o que as empresas de comunicação estão fazendo quando ditam restrições a seus empregados nas redes sociais.

Mas, isso não passa da adaptação de uma regra que já existe há muito tempo. É o que acaba admitindo, por exemplo, Ricardo Gandour, diretor do Grupo Estado. Segundo ele, “as regras contra a divulgação de posições partidárias e políticas é algo que já faz parte do manual de redação, antes das redes sociais".

Com o emprego em jogo, trata-se muito mais de censura do que de autocensura. A vida pessoal seqüestrada pelo ritmo de trabalho. As opiniões públicas interditadas pelos patrões. É a dura realidade de uma profissão cada vez mais castrada.

Clique aqui para ler a reportagem do Comunique-se.

Leia também: A gente também sabemos falar

17 de maio de 2011

CNBB e Forças Armadas contra a causa gay

Saiu na coluna de Mônica Bergamo, na Folha de S. Paulo, em 16/05/2011. A CNBB e o Exército estariam se mobilizando para barrar o projeto que torna crime a homofobia.

Cardeais teriam telefonado para o presidente do Senado, José Sarney, manifestando essa preocupação. Já o senador Marcelo Crivella, evangélico, teria recebido ligação do comando do Exército.

É triste ver a CNBB fazer coro com as Forças Armadas. Afinal, a entidade católica se manifestou, por exemplo, pela abertura dos arquivos da ditadura militar. Ou pela realização de uma reforma agrária de verdade.

Mas, estas posições contraditórias da CNBB mostram como a instituição é passível de ser pressionada. Não é o caso das Forças Armadas. Estas fazem parte do núcleo do Estado. Estão totalmente comprometidas com a ordem autoritária. Quando silenciam, esperam apenas o melhor momento para dar o bote.

Nessa situação, ajuda pouco recente anúncio de Sérgio Cabral. Segundo o governador fluminense, policiais homossexuais poderão participar uniformizados da próxima Parada Gay. Utilizando, inclusive, viaturas da polícia. A medida pode dar a ilusão de que o Estado se compromete com a luta por liberdade sexual.

Não é verdade. O compromisso é do governo. De uma instância do poder que é passageira. As Forças Armadas são o escudo blindado dos valores conservadores. Sua ação é permanente, secular e violenta. Entre um e outro, o Estado ficará ao lado dos generais.

O movimento gay precisa avançar com suas próprias forças. Através do trabalho de base junto à sociedade. Incluindo soldados e policiais. Conquistar um apoio popular e independente para suas lutas. Sempre desconfiando das instituições governamentais e estatais.

Leia também: União gay, homofobia e democracia

16 de maio de 2011

A gente também sabemos falar

O MEC adotou o livro "Por uma Vida Melhor" para uso do 6º ano do ensino fundamental. A publicação é da ONG Ação Educativa. A imprensa caiu matando na parte dedicada à língua portuguesa da obra.

O motivo é a frase "Os livro ilustrado mais interessante estão emprestado". Segundo a publicação, a frase nada tem de errado. Trata se de uma forma de expressão perfeitamente aceitável.

A mídia diz que o livro é polêmico. Mas algo polêmico pressupõe opiniões divergentes. Na grande imprensa, até agora, só apareceu uma visão: a publicação é uma apologia à ignorância.

No site da editora estão disponíveis apenas três páginas da obra. O capítulo 1, intitulado “Escrever é diferente de falar”, afirma:
“As classes sociais menos escolarizadas usam uma variante da língua diferente da usada pelas classes sociais que têm mais escolarização. Por uma questão de prestígio – vale lembrar que a língua é um instrumento de poder -, essa segunda variante é chamada de variedade culta ou norma culta, enquanto a primeira é denominada variedade popular ou norma popular”.
Outro trecho diz que:
“...as duas variantes são eficientes como meios de comunicação. A classe dominante utiliza a norma culta principalmente por ter um sinal de prestígio. Nesse sentido, é comum que se atribua um preconceito social em relação à variante popular usada pela maioria dos brasileiros. Esse preconceito não é de razão lingüística, mas social. Por isso, um falante deve dominar as diversas variantes porque cada um tem seu lugar na comunicação cotidiana”.
Marcos Bagno é um lingüista que estuda essa questão há muito anos. Não foi consultado pelos jornalões. Ele considera que:
“...somente com uma abordagem assim as alunas e os alunos provenientes das chamadas ‘classes populares’ poderão se reconhecer no material didático e não se sentir alvo de zombaria e preconceito”.
Ainda segundo Bagno, “defender o respeito à variedade linguística dos estudantes não significa que não cabe à escola introduzi-los ao mundo da cultura letrada”.

O mais interessante é ver os defensores da pureza da língua tropeçarem nas próprias palavras. Vejam o que Bagno diz sobre isso:
“Ontem, vendo o Jornal das Dez, da GloboNews, ouvi da boca do sr. Carlos Monforte essa deliciosa pergunta: ‘Como é que fica então as concordâncias?’. Ora, sr. Monforte, eu lhe devolvo a pergunta: 'E as concordâncias, como é que ficam então?’”

Leia o artigo de Marcos Bagno, clicando aqui

13 de maio de 2011

Abolicionismo racista

A maior parte do movimento negro se nega a comemorar o “13 de Maio” por duas razões principais. Primeiro, porque não considera o fim da escravidão como sinônimo de libertação. A liberdade ainda é um direito bastante restrito para a população pobre. Isto é ainda mais verdadeiro para seus setores não brancos.

A outra razão é o caráter elitista da abolição. Um processo longo e gradual de negociação com os senhores de escravos. Transação que tentou trocar a liberdade dos cativos pelo direito de indenização para aqueles que se julgavam seus donos.

Além disso, a data simboliza a vitória do movimento abolicionista. Mas, os abolicionistas, em geral, não defendiam o fim da escravidão olhando para suas vítimas. Sua preocupação era o atraso econômico a que a utilização de mão de obra forçada condenava o País. Mais do que isso, a maioria desaprovava o convívio com uma “raça” que considerava inferior.

Um dos mais famosos e respeitados abolicionistas foi Joaquim Nabuco. Vejam o que ele escreve sobre os negros:
Muitas das influências da escravidão podem ser atribuídas à raça negra, ao seu desenvolvimento mental atrasado, aos seus instintos bárbaros ainda, às suas superstições grosseiras.
O trecho acima foi retirado do livro “O Abolicionismo”, de 1863. Abaixo, outra passagem mostra como o autor teme um movimento organizado pelos próprios escravos:
É assim, no Parlamento e não em fazendas ou quilombos do interior, nem nas ruas e praças das cidades, que se há de ganhar, ou perder, a causa da liberdade.
Ou seja, era preciso canalizar a revolta dos escravos para as instituições da monarquia imperial. Desse modo, tentava-se afastar qualquer radicalização que fugisse ao controle da elite branca “esclarecida”.

Felizmente, houve várias revoltas, atos de sabotagem, ações violentas, lideradas por escravos. Do contrário, a negociação pelo alto teria resultados ainda piores. Mas, o fato é que a maioria dos abolicionistas não queria livrar o povo negro. Queria livrar-se dele.

Leia também: Abolição: sob controle do monstro

A inflação e o furacão capitalista

A volta da inflação não sai das manchetes. É o “fantasma do descontrole dos preços”. Um mal “que atinge principalmente os mais pobres”, dizem os jornais. A grande maioria deles, neoliberais convictos.

Ora, neoliberais não costumam se preocupar com pobres. Por que se preocupam com a inflação?

Um palpite. O aumento constante nos preços desgasta rapidamente o valor dos salários. Faz a temperatura da luta de classes subir. Afinal, o arrocho salarial obriga até os sindicalistas mais pelegos a mostrar serviço. Greves começam a pipocar. Neoliberal não gosta disso.

Outro problema é que, geralmente, inflação é sinal de economia aquecida. Economias aquecidas costumam gerar mais emprego. Baixo desemprego aumenta o poder de negociação dos trabalhadores. Neoliberal também não gosta disso.

Não é à toa que o neoliberalismo incentivou a adoção de planos de combate à inflação no mundo todo. No Brasil, foi o Plano Real.

O interessante é que diziam que a causa da inflação dos anos 80 e 90 era o baixo valor da moeda brasileira frente ao dólar. Hoje, dizem que a causa da inflação é a enxurrada de dólares na economia mundial. É o dólar fraco!

Para acabar com a inflação, o Plano Real dolarizou a moeda brasileira. Privatizou dezenas de estatais, causou desemprego e baixos salários para milhões e multiplicou por dez a dívida pública. Tudo isso para atrelar a economia brasileira ao dólar. Agora, a inflação, que deveria ser do dólar, é nossa.

O fim da inflação era pra ser uma vitória. Foi só mais uma forma de empurrar as economias menos fortes para perto olho do furacão das crises capitalistas.

Leia também: Privatização de aeroportos e cheque voador

11 de maio de 2011

CSA: Importando poluição

Maior empreendimento da empresa alemã ThyssenKrupp no Brasil, a Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA) faz parte das obras do PAC. Construída no bairro carioca de Santa Cruz, deixou a cidade mais poluída e não criou os empregos anunciados.

Vem poluindo cerca de 6 mil residências da região com uma fuligem que causa doenças. Tirou o sustento de centenas de pescadores da região. Foi multada por contratação ilegal de trabalhadores chineses. Teria utilizado serviços de milícias para perseguir lideranças populares que se opõem ao empreendimento.

Alexandre Pessoa é formado em Engenharia Ambiental pela UERJ e membro da Rede Brasileira de Habitação Saudável. Ele vem acompanhando o caso e diz que “o padrão de instalação da TKCSA no Brasil não seria aceito na Alemanha e nos países europeus”.

Trata-se de algo que vem ocorrendo há muitos anos. É a exportação de poluição para países cujos governos aceitam trocar segurança ambiental e social por investimentos econômicos mais que duvidosos.

Uma esperteza imaginada por um criativo diretor do Banco Mundial. Lawrence Summers era economista-chefe da instituição, em 1991. Em dezembro daquele ano, enviou um memorando a alguns colegas. O documento vazou e foi publicado por “The Economist”, no início de 1992. Vejam o que diz seu trecho inicial:
Cá entre nós, o Banco Mundial não deveria encorajar a migração de indústrias poluidoras para os países menos desenvolvidos?
Sim, responde o próprio Summers. Cita, entre outras justificativas, o fato de que tais países estariam “subpoluídos”. Beleza de raciocínio. Pelo jeito, ganhou muitos adeptos no Brasil, desde então.

Clique aqui
e assista vídeo produzido pelo PACS e Ibase.

Leia também: Um sarcófago para a energia atômica

10 de maio de 2011

Apertem os cintos, o pelego pediu

Gilberto Carvalho é secretário Geral da Presidência da República. No governo anterior, era o braço direito de Lula. Ele concedeu entrevista à Carta Maior, em 09/05/2011. A respeito dos temores em relação à volta da inflação, disse o seguinte:
Vai ter que ter maturidade do movimento sindical, do governo e do funcionalismo público, para que, num ano específico como este, as pessoas não queiram, egoisticamente, o seu próprio bem e ponham em risco o andamento da carruagem em geral.
O medo do secretário petista é que os trabalhadores exijam reposição da inflação em suas campanhas salariais. Os neoliberais dizem que isso causaria uma “espiral inflacionária”. Uma “indexação” da economia. Palavras difíceis para pedir aos trabalhadores que “apertem o cinto”.

Lógica interessante, esta. Segundo o IBGE, a massa salarial do País encerrou 2010 com uma alta real de quase 7%. O problema é que os lucros dos patrões brasileiros tiveram um aumento bem maior. E ninguém melhor para dizer isso que o ex-chefe de Carvalho. Em palestra para empresários na Casa Fasano, Lula afirmou de boca cheia:
... eu duvido que algum empresário já ganhou mais dinheiro nesse país do que no meu mandato. Duvido que os bancos já tiveram mais lucro nesse país do que no meu mandato (Valor – 06/05/2011).
É a mais pura verdade. Então, que tal pedir aos patrões que sejam menos egoístas? Que abram mão de um pouquinho dos lucros tão generosos que obtiveram sob o governo do PT?

A idéia de que reajustes salariais causam inflação é um absurdo. Um papo furado que patrões e governos gostam de usar contra os trabalhadores. Algo que o PT sempre denunciou. Agora, vem com essa conversa de pelego.

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9 de maio de 2011

Pra que serve a maioria de Dilma?

O governo Dilma conta com o maior apoio parlamentar a um governo desde o fim da ditadura militar. São 366 deputados e 52 senadores. E funciona. É o que mostra o líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP). Até hoje, diz ele, o governo contou com a fidelidade da base partidária em 92% das votações.

Mas pra que serve toda essa fidelidade? Para aprovar uma reforma agrária pra valer? Quebrar o monopólio dos meios de comunicação? Reduzir a jornada de trabalho sem redução salarial? Aprovar um projeto de moradia que ocupe os quase 5 milhões de imóveis vazios no País? Abrir os arquivos da Ditadura?

Nada disso. A última votação importante no Congresso foi a do reajuste do salário mínimo. A enorme base parlamentar governista funcionou perfeitamente. Aprovou um reajuste menor do que o pretendido pelas centrais sindicais.

Vem aí a votação das mudanças no Código Florestal. Na verdade, propostas que atendem aos interesses dos ruralistas. Um ataque ao meio ambiente e à pequena agricultura. O que faz a base parlamentar do governo petista a respeito disso?

O PMDB tem uma das maiores bancadas governistas. Seus integrantes decidiram votar a favor da proposta ruralista. Claro. Dos 80 deputados ruralistas, 26 são do PMDB. Mais uns 35 estão espalhados por outros partidos que apóiam o governo, como o PP, PR e PTB. Enquanto isso, a própria bancada petista se mostra dividida.

O resultado é um recuo atrás do outro. Há quem ache que este governo está em disputa. É verdade. Mas, a disputa é entre ruralistas, banqueiros, monopólios da mídia, empreiteiros, grandes empresários.

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6 de maio de 2011

União gay, homofobia e democracia

O Supremo Tribunal Federal aprovou o direito à união homoafetiva. Ótimo!

A chance de um homossexual ser assassinado no Brasil é 785% maior que nos Estados Unidos. Lamentável!

Mesmo assim, a lei de combate à homofobia enfrenta dificuldades para ser votada no Congresso.

Alguém poderia dizer que o direito à união gay é “perfumaria” perto da tragédia nacional que é a violência contra homossexuais. Não é bem assim. Apesar de tudo, foi uma vitória importante.

Mas, o fato é que nossas lutas não podem ficar dependendo das instituições que estão aí. Os onze figurões que vestem camisolas pretas no STF já cometeram muitas injustiças. E a pressão das ruas já obrigou os muitos picaretas do Congresso a engolir várias conquistas.

A verdade é que a política tem que ser feita nos bairros, locais de trabalho, escolas. Em conselhos e comitês populares. Envolvendo o conjunto das lutas dos explorados e perseguidos.

Precisamos esvaziar o poder dos parlamentos oficiais e das altas cortes. Eles foram feitos para ficar isolados do povo e íntimos dos poderosos.

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5 de maio de 2011

A militância mofando nos gabinetes

Em 04/05, representantes da UNE e da UBES foram a Brasília. O objetivo era entregar propostas de emendas ao Plano Nacional de Educação, que está em votação na Câmara. Defendem mais verbas para o setor.

No entanto, diz a imprensa, o movimento foi prejudicado pelo esquema de segurança montado para a votação sobre o Código Florestal. Somente alguns estudantes conseguiram entrar no prédio para pressionar os deputados.

O que há de errado no parágrafo acima? Tudo. Entidades estudantis foram ao parlamento lutar por suas exigências. Mas, sua ação foi “atrapalhada” por que outra luta estava em curso. Esta última, liderada por ambientalistas, claro.

Pergunta: por que estudantes e ambientalistas estavam separados quando poderiam se unir? Afinal, as entidades estudantis firmaram posição contra mudanças do Código Florestal. E os ambientalistas não são contra o aumento das verbas para a educação.

Por outro lado, o plenário da Câmara estava cheio. Todos os deputados estavam lá para discutir mudanças nas leis ambientais. Algo muito importante, sem dúvida.

Importante demais para deixá-la nas mãos de parlamentares. A grande maioria deles foi negociar caro seu apoio aos ruralistas. Até a bancada petista diz que está dividida. Dividida? Entre ruralistas e ambientalistas?

O fato é que divididos mesmo estão os movimentos sociais. Cada um segue a agenda que lhes é imposta de cima para baixo. Mal conseguem realizar manifestações unificadas. Quando conseguem, só aparecem as direções, funcionários e alguns militantes dedicados.

Enquanto isso, nossas ações são direcionadas para os saguões e gabinetes institucionais. Saem os militantes, entram os lobistas. E nesse terreno mofado, perdemos feio para os inimigos.

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4 de maio de 2011

Osama é o cachorro morto de Obama

Obama já colhe os frutos pela morte de Osama. O presidente americano mandou invadir um país estrangeiro e fuzilar um prisioneiro de guerra e sua família. Seus índices de popularidade começaram a subir.

Compreensível. Afinal, eleger Obama não implicou dizer não a tudo o que Bush representava. Ao contrário, várias promessas de campanha deixaram de ser cumpridas. Nada aconteceu. Uma delas foi cumprida: a criação de um sistema público de saúde. Nem saiu do papel e beneficia as empresas de medicina. Mas, foi o bastante para que Obama fosse “xingado” de socialista.

O que já vinha salvando Obama são a incompetência e estupidez dos republicanos. Agora, com a morte de Bin Laden, Obama pode bancar o “cara durão” como quer o eleitorado branco e conservador. Aquele que sempre comparece às eleições em massa para manter sólida a ditadura eleitoral americana.

O embaixador brasileiro no Paquistão declarou que Bin Laden já não era o chefão da Al Qaeda há anos. O lugar foi ocupado por Al Zawahiri. O jornalista inglês Robert Fisk confirma a informação e sobre o tão falado poderio da Al Qaeda declarou:
...as revoluções de massa no mundo árabe nos últimos quatro meses significam que a al-Qaeda estava politicamente morta. Bin Laden disse ao mundo (...) que queria destruir os regimes pró-ocidentais do mundo árabe, as ditaduras dos Mubaraks e dos Ben Alis. Ele queria criar um novo Califado Islâmico. Mas nos últimos meses, milhões de muçulmanos árabes se levantaram e estavam preparados para seu próprio martírio — não pelo islã, mas por liberdade e democracia. Bin Laden não se livrou dos tiranos. O povo, sim (Leia mais aqui).
Como golpe de publicidade, o chute que Obama deu num “cachorro morto” vai indo bem.

Leia também: Violência revolucionária não é terrorismo

3 de maio de 2011

Violência revolucionária não é terrorismo

Bin Laden começou sua carreira de terrorista com apoio do governo dos Estados Unidos. Em 1979, ele liderava muçulmanos fanáticos na luta contra a ocupação soviética do Afeganistão. Para derrotar o imperialismo russo, os americanos armaram e financiaram suas tropas. Eram guerrilheiros que matavam e esquartejavam mulheres e crianças. Para a imprensa americana, eram os “lutadores da liberdade”.

A mesma tática foi utilizada com Saddam Hussein. O ditador iraquiano também recebeu forte apoio dos Estados Unidos em sua guerra contra o Irã, em 1980. Na verdade, Hussein foi usado pelo imperialismo ianque. A esta altura, os aiatolás já haviam transformado o regime iraniano numa ditadura. Mas, seu crime maior foi desrespeitar os interesses econômicos americanos e desafiar Israel.

Depois, tanto Bin Laden como Saddam tornaram-se inimigos dos Estados Unidos. Já não interessavam em seu jogo podre na região. Ambos acabaram encontrando a morte. Não foram páreo para o monstruoso poder do Estado americano.

O importante nisso tudo é não confundir terrorismo com violência revolucionária. Esta última é inevitável porque os poderosos utilizam os piores e mais sujos meios para manter seus privilégios. Isso se mostrou verdadeiro em todos os movimentos revolucionários da história, vitoriosos ou não.

Terrorismo é ação isolada, que atinge muito mais os explorados do que os exploradores. Assassinos como Bin Laden facilitam o serviço dos poderosos. Ajudam a confundir revolução com terror, socialismo com ditadura, coragem com intolerância, firmeza ideológica com fanatismo.

E também ajudam a esconder os crimes dos estados imperialistas. Mais numerosos e sanguinários que os do próprio terrorismo.

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2 de maio de 2011

Um pastor evangélico e republicano

O fim de semana não foi lá muito republicano. Primeiro, um casamento real visto por quase 2 bilhões de pessoas. Evento fantasioso, com o objetivo muito concreto de melhorar a mais que desgastada imagem da monarquia inglesa. Uma instituição que custa aos cofres públicos do país cerca de R$ 1,2 bilhão anuais. Privilégio ainda mais vergonhoso em uma economia que passa por forte recessão.

Outra notícia a atrair as atenções foi a beatificação de João Paulo 2º. A grande imprensa transmitiu diretamente do Vaticano, o mais poderoso Estado teocrático do planeta e um dos mais reacionários. O papa falecido recentemente já foi ungido por seu sucessor imediato. Ambos, exemplos de muita coisa, menos de caridade cristã.

Diante disso, é um alívio ler a entrevista com o pastor protestante Ricardo Gondim, da Igreja Betesda. Publicada na revista CartaCapital de 27/04, o título da matéria diz tudo: “Deus nos livre de um Brasil evangélico”. A frase traduz a preocupação com a intolerância: “Seria a talebanização do Brasil. Precisamos da diversidade cultural e religiosa”, afirma Gondim.

Depois de se declarar a favor do casamento gay, o pastor cearense diz acreditar que Deus não está no controle. E que é preciso viver como se ele não existisse para assumirmos a responsabilidade de lutarmos, nós mesmos, pelo bem. Outros trechos que merecem destaque:
Um ensino muito comum nas igrejas é a de que Deus abre portos de emprego para os fiéis. Eu ensino minha comunidade a se desvincular dessa linguagem. Nós nos revoltamos quando ouvimos que algum político abriu uma porta para o apadrinhado. Por que seria diferente com Deus?
Para alguns autores, a decadência do protestantismo na Europa não é, verdadeiramente, uma decadência, mas o cumprimento de seus objetivos: igrejas vazias e cidadãos cada vez mais cidadãos, mais preocupados com a questão dos direitos humanos, do bom trato da vida e do meio ambiente.
A seu jeito, Gondim recupera um pouco do potencial transformador de alguns movimentos religiosos populares. Que os ouvidos dos mortais lhe ouçam.

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